quinta-feira, 23 de julho de 2020

Acabar

você quer acabar com tudo
como se fosse a solução
vá em frente e puxe a faca
antes que veja que é uma ilusão

o mundo não para
só porque você parou
se precisar de uma pausa
vão tomar o seu lugar

e o seu lugar
já tão mal ocupado por uma sombra que se passa por você
mostrando as presas para estranhos com medo de perder
o controle deste corpo tão fraco que mal pode esperar
contando os segundos para desabar

agem como se fosse errado
querer se livrar
de um barulho interno
que não dá um sinal
de quando vai parar

quero me livrar de você
te colocar em chamas
sem você perceber
eu quero você longe
mais longe do que posso enxergar
quero que desapareça
e me deixe sozinha pra queimar

não se aproxime
dê meia volta
se afaste de mim
não te quero aqui
não te quero por perto
pra me ver explodir

terça-feira, 14 de julho de 2020

Extraterrestre

Não sou de Júpiter, nem de Netuno
Não sou de Mercúrio, nem de Saturno
Não sou marciana, não sou humana
Sou do espaço, dos exilados
Dos miseráveis, dos desgraçados
Eu sou daqueles que não tem terra
Fiz a minha casa torta em uma estrela
Que a qualquer momento pode se apagar

Não se apegue aos meus olhos brilhantes
Não é aqui que eu deveria estar
Estou trancafiada do lado errado do mundo
Estou confinada nesse lugar corrupto
Presa com esses governantes, sujos, imundos
Estão me esticando, estão me expondo
Do meu sangue arroxeado estão bebendo
Acreditando que é o elixir da vida eterna
Mas para eles, meu sangue é veneno

Do meu corpo fizeram uma atração
Minha mente estável se tornou vazia
Quebrada, devastada
Como uma cidade após um furacão
Estou trancafiada do lado errado do mundo
Estou respirando poeira e me tornando radiação
Minha pele está secando e entrando em erupção
A toxicidade é o que há nessa cidade
Preciso escapar desse lugar

Aqui não há nada, não há bondade
No lar dos humanos não há humanidade
Este lugar é dos vagabundos
Dos que assistem sem empatia a vida se esvair dos moribundos
Empilham corpos nas ruas da cidade
Meus pulmões estão virando pó
E meus órgãos parando de funcionar
Injetam coisas em minhas veias e retiram de mim mais do que posso dar

Pensei que havia visto uma evolução
Aspiram de minha pele a poeira lunar
Me enganei, só há devastação
A minha mão está quebrada, porque me obrigam a escrever
Eu apenas sonho em retornar
Para a minha estrela, para o meu lar
Pois quem vive na Terra não tem mais nada pelo que esperar

Estou trancafiada do lado errado do mundo
É de mundo que chamam este planeta pequeno
Se acham os donos de tudo
Dos humanos, os humanos são o próprio veneno
Eu vivia tão bem do lado de fora
E agora estou trancada do lado de dentro
Com suas salivas correndo em meu sangue
Esperando estes vampiros decidirem o momento
Se é que vão decidir um dia acabar com o meu sofrimento

sábado, 11 de julho de 2020

A Rainha e o Bobo

Era um dia quente
Quanto percebi
Algo errado havia
Quando te vi sorrir
Veio em minha direção
Cantarolando uma canção

Foquei em teus lábios avermelhados
Quando chamou-me pelo meu nome
Como pude deixar-me levar
Pelos encantos de uma dama tão nobre?
Tocou em meus ombros e tirou do bolso o meu lenço acizentado
Tão colorido era quanto a minha alma

Encostou o pano em minha face
Limpando as lágrimas desenhadas em azul
Minha pele estava tão menos pálida
Quando tirou minha maquiagem
Deixando apenas o vermelho do meu batom
Que logo se juntou com o teu

Tua pele agora estava brilhando
Do teu beijo sobrou somente
O ouro que ficou em meus dentes
E em minha pele o perfume caro que mandou importar
E novamente vim a mim mesma perguntar
Como pude me deixar levar?

No dia seguinte fui a tua sala
E foi tão incomum, tão singular
Quando habitualmente curvei-me em tua presença
Retirando do bolso o lenço acinzentado
Que agora aparecia manchado
Pelas lembranças do dia anterior

E além do cinza veio o violeta
Veio o azul, veio o verde, veio o vermelho
Vermelho como teus lábios e como os meus também
Vermelho como o meu nariz 
Que todos os dias espera ganhar a tua risada
E talvez eu tenha ido além

E quando a lua chegou ao céu
Viestes até o meu quarto
Sussurrando a tua canção
O bobo da corte de verdade era bobo
Pois como pôde por um momento pensar
Que a rainha se apaixonaria por um palhaço

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Escultor de musas

Eu te eternizei em versos, minha musa
Eu te esculpi em palavras douradas
Eu desenhei meu coração
E fiz dele a tua morada

Pena que se foi 
Aquele olhar
Aquela voz
O seu olhar

Eu procuro na sua alma
Aquela que para sempre vou amar
Ainda está ai?
Juro, ainda vou te encontrar

O que a fez duvidar?
O mesmo que a fez fingir
O que a fez fugir?
O mesmo que a fez ficar

O que me faz ficar me faz querer fugir
Não sei a razão
Mas algo me diz que você também se sente assim
O que acontece com seu coração?

Quem me dera poder deslizar
Para dentro da sua mente e olhar
O que se passa lá dentro
Duvido que você queira ficar

Mas por que não fala a verdade?
O que esconde de mim?
Eu quero saber e depois me vou
Só que as coisas não precisam ser assim

Me diga a verdade e não fuja
Deixe esta parte comigo
Mas aonde quer que eu vá
Uma parte minha, meu coração, sempre estará contigo

Desencontro

 Me desencontre nas nuvens, querida
Passe correndo por mim
Desapareça na multidão antes que eu possa te tocar
Por segundos de diferença nunca vamos nos encontrar

Quem é você?
Do que você corre?
O escuro te assusta?
Por que foge das minhas perguntas?

A chuva é tão ácida
Que corrói sua face
Destrói sua identidade
Ninguém pode impedir

Esses desencontros
Continuarão até quando?
Posso dizer que estou evitando?
Eu só estou me protegendo

Eu prometi para mim mesma
Que se você mentisse para mim
Eu não seria um bebê chorão
Mas isso foi antes
Antes de você ter como refém o meu coração

Por que o segura a essa distância segura?
Você não me ama, não tente negar
Sabe que se continuar esticando essa farsa
Eu serei a única a me machucar

Eu não sei do que você foge
Mas eu ando fugindo de tudo
Não sei se estou tomando a decisão certa
Estou com medo de esquecer de ser alerta

Estou com medo de te perder
Estou com medo de me perder
Entre mim e você
Quem eu devo escolher?

Omissão de socorro

Eu olho pro agora Procuro fantasmas do passado E só vejo os do futuro Você nem vai estar mais aqui quando eu acordar Eu sei, porque eu já de...