sábado, 11 de julho de 2020

A Rainha e o Bobo

Era um dia quente
Quanto percebi
Algo errado havia
Quando te vi sorrir
Veio em minha direção
Cantarolando uma canção

Foquei em teus lábios avermelhados
Quando chamou-me pelo meu nome
Como pude deixar-me levar
Pelos encantos de uma dama tão nobre?
Tocou em meus ombros e tirou do bolso o meu lenço acizentado
Tão colorido era quanto a minha alma

Encostou o pano em minha face
Limpando as lágrimas desenhadas em azul
Minha pele estava tão menos pálida
Quando tirou minha maquiagem
Deixando apenas o vermelho do meu batom
Que logo se juntou com o teu

Tua pele agora estava brilhando
Do teu beijo sobrou somente
O ouro que ficou em meus dentes
E em minha pele o perfume caro que mandou importar
E novamente vim a mim mesma perguntar
Como pude me deixar levar?

No dia seguinte fui a tua sala
E foi tão incomum, tão singular
Quando habitualmente curvei-me em tua presença
Retirando do bolso o lenço acinzentado
Que agora aparecia manchado
Pelas lembranças do dia anterior

E além do cinza veio o violeta
Veio o azul, veio o verde, veio o vermelho
Vermelho como teus lábios e como os meus também
Vermelho como o meu nariz 
Que todos os dias espera ganhar a tua risada
E talvez eu tenha ido além

E quando a lua chegou ao céu
Viestes até o meu quarto
Sussurrando a tua canção
O bobo da corte de verdade era bobo
Pois como pôde por um momento pensar
Que a rainha se apaixonaria por um palhaço

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